Porvir

Enquanto vivemos vamos construindo a nossa biblioteca pessoal. Guardamos tradições de família, ditos e conselhos de tias e amigas, lendas da nossa terra, cantigas das nossas avós, palavras carinhosas das nossas mães. Construímos um saber que é muito nosso, porque por nós vivido. Um saber que nos distingue dos demais. Por vezes não parece ser nada de importante, e quase temos vergonha de o dar a conhecer. Ao nosso saber. Mas outras vezes temos rasgos de aventureirismo e ousadia! Atrevemo-nos a escancarar as portas da nossa biblioteca e a deixar entrar o ar nessa divisão tão nossa, tão particular. Expomos os antigos cadernos aos olhos de quem passa, desvendamos os segredos e mostramos as cadernetas preenchidas com penas e alegrias. Há quem passe e siga, sem sequer olhar. Há quem se interesse e demore um pouco, a folhear. Há quem se sente e leia. Quem leia e perceba. Não é preciso muito mais para deixar um escritor contente! Alguém que leia e perceba. Um leitor. Um outro proprietário de bibliotecas misteriosas por profanar.